terça-feira, junho 27, 2006

Sonetos que não são

de Hilda Hilst

Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha.)

Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.

( Roteiro do Silêncio(1959) - Sonetos que não são - I)

(Poesia: 1959 - 1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)

(Do Amor - São Paulo: Massao Ohno Estúdio - Edith Arnhold / Editores, 1999.)

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