segunda-feira, outubro 30, 2006

"Ao lado do poder, há sempre a potência.
Ao lado da dominação, há sempre insubordinação.
E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo:
este ponto... é simplesmente lá onde as pessoas sofrem,
ali onde elas são as mais pobres e as mais exploradas;
ali onde as linguagens e os sentidos estão mais separados de qualquer poder de ação
e onde, no entanto, ele existe;
pois tudo isso é a vida e não a morte."

Antonio Negri
(apud Pelbart, 2002)

terça-feira, outubro 24, 2006

A alma imoral
Nilton Bonder
Ensaio 136 páginas

O novo livro de Nilton Bonder, A alma imoral, mostra que, num mundo de interdisciplinaridade, religião e biologia, tradição e sobrevivência, continuidade e mutação não são áreas desconexas. Mas do que tudo, num mundo que redescobre o corpo, faz necessária uma nova linguagem para descrever a natureza humana. Os milenares conceitos de corpo e alma, propõe Bonder, são o primeiro registro de uma proposta biológica - de estudo da vida e de suas leis.

Num texto que provoca a comparação entre preservação e evolução com tradição e traição, A alma imoral aponta para um paraíso onde os únicos mandamentos eram "multiplicar-se" e lidar com a questão da "transgressão". A consciência humana é formada desta descoberta fantástica de que nossa tarefa não é apenas a procriação, mas, nas condições certas e na medida certa, transcender a nós mesmos. Esta traição para nós mesmos, que é vital para a continuidade da espécie, gera o conceito de alma.

Para Bonder, a alma é o elemento do próprio corpo que está comprometida com alternativas fora deste corpo. E, enquanto o corpo forja a moral para garantir sua preservação através da procriação, a alma engendra transgressões. Esta alma que questiona a moral, assumindo-se muitas vezes imoral, é apresentada através de incontáveis transgressões em textos e conceitos antigos.

Um livro de profundo impacto na reflexão sobre o certo e o errado, a obediência e a desobediência, as fidelidades e as traições. Um convite a conhecer as profundas conexões entre o traidor e o traído, entre a marginalidade e a santidade, entre a alma e o corpo.

Sobre o autor

Nilton Bonder é rabino com função de líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil. É graduado em engenharia mecânica pela Universidade de Columbia e doutor em literatura hebraica pelo Jewish Theological Seminary.

Reconhecido internacionalmente, seus livros já foram lançados nos Estados Unidos e Europa com grande sucesso. A cabala da comida, A cabala do dinheiro, O segredo judaico de resolução de problemas estão entre seus títulos mais vendidos. Seu livro anterior, Portais secretos, foi lançado pela Rocco em 1996. A alma imoral é seu décimo primeiro livro.

In: http://www.editoras.com/rocco/022088.htm

domingo, outubro 22, 2006

C.R.A.Z.Y.


Jean-Marc Vallée

Parábola da Complexidade

“ A questão da complexidade está na moda, mas no sentido em que vou utilizá-la, ela é antiga. Lichtenberg, que vivia no século XVIII, já a tinha colocado na forma de uma parábola, num texto que o põe em cena como químico sonhando (Lichtenberg era a um só tempo químico, escritor, físico, crítico literário, etc.) . Lichtenberg-químico sonha que um Ser sobrenatural, ao qual ele não dá nome mas que é evidentemente Deus criador, lhe confia uma bola mineral. Pede-lhe para analisá-la e lhe designa um laboratório bem equipado. Lichtenberg pensa que esta é a oportunidade de sua vida: ele vai descobrir um corpo desconhecido, com propriedades surpreendentes. Começa a trabalhar... A bola está com um pouco de poeira e ele a sopra; ela está úmida, ele a enxuga; testa suas propriedades em relação à eletricidade friccionando-a. Nada de particular, não é âmbar. Depois ele a analisa quimicamente e não encontra nada interessante, nada senão compostos conhecidos... Decepção. O Ser sobrenatural reaparece e pergunta: “analisou?”, e Lichtenberg, perplexo, atônito, lhe dá a lista dos constituintes. “Você sabe o que analisou, mortal? Esta bola é o globo terrestre” (é um sonho; devemos imaginar uma terra sem âmago ardente, evidentemente). E o Ser sobrenatural descreve para o químico como, desde as primeiras operações, desde que se “apropriou” da bola soprando-a, enxugando-a com seu lenço, ele suprimiu tudo o que na terra tem de interessante, de singular. Os oceanos foram “soprados”, os Andes são essa poeira que está ainda agarrada em seu lenço, etc... O primeiro gesto de Lichtenberg, que ele acreditava ser neutro, insignificante, que fez sem pensar, e que era realmente o gesto de apropriação, reduziu a terra a um composto mineral qualquer. No final do sonho, Lichtenberg, ainda químico, mas jurando tomar todas as precauções possíveis e imagináveis, pede uma nova chance. O Ser sobrenatural lhe concede a nova chance e lhe diz: “Analise quimicamente o que encontrar nesse saco”. Lichtenberg abre o saco e cai de joelhos para pedir perdão, enquanto químico, por sua arrogância. Dentro do saco há um livro, e ele sabe que poderá analisá-lo sem que, evidentemente, a análise química lhe permita dizer o que quer que seja de interessante.

O sonho de Lichtenberg é a própria parábola da complexidade: a maneira pela qual abordamos aquilo com que lidamos é pertinente relativamente ao problema que nos é colocado por aquilo com que lidamos?” (p.151, 152)

PRIGOGINE, I. & STENGERS, I., 1991.: Quinto dia: Da complexidade (Outras Histórias para a ciência), In: A Nova Aliança. - Brasília: Universidade de Brasília.

sábado, outubro 21, 2006

quinta-feira, outubro 19, 2006

"Compreender é compreender as razões e as desrazões do outro. É compreender que o self deception, que é o enganar-se a si próprio, um processo mental bem freqüente, pode levar à cegueira sobre o mal cometido, e à auto-justificação, onde o assassinato do outro é considerado justiça ou represália.

A cegueira pode vir de uma impressão cultural sobre os espíritos. A cegueira pode resultar de uma convicção fanática, política ou religiosa. Quando os homens são possuídos pelas idéias, qual é a sua parte de responsabilidade nisso? Esse trabalho de compreensão tem algo de terrível, pois aquele que compreende se coloca em estado de total dessimetria com o fanático que não compreende nada, e que, evidentemente, não compreende que se o compreenda.

As situações são determinantes: virtualidades odiosas ou criminais podem surgir em circunstâncias de guerra (o que, em menor porte, acontece nas guerras conjugais). Os atos terroristas se devem a grupos que, ilusoriamente, vivem uma ideologia de guerra em tempos de paz. Eles são como alucinados numa redoma. Mas assim que a redoma se rompe, muitos deles voltam a ser pacíficos. Essas pessoas, cegas tanto pelo auto-engano quanto por ilusões políticas, me parecem, ao mesmo tempo irresponsáveis e responsáveis, e não podem isentar-se nem de uma condenação simplista, nem de um perdão ingênuo.

Há uma relação entre compreensão, a não vingança e, no limite, o perdão. Victor Hugo declarou: “Eu tento compreender para perdoar”. É primordial considerar que o perdão é uma aposta ética, uma aposta na regeneração daquele que falha, uma aposta na possibilidade de transformação e de conversão ao bem, daquele que cometeu o mal. O ser humano não é imutável: ele pode evoluir para melhor ou para pior."


Edgar Morin
Excerto do texto: PERDOAR É RESISTIR À CRUELDADE DO MUNDO, publicado no livro: ALMEIDA, M.-C.; KNOBB, M. & ALMEIDA, A. (org.), 2003.: Polifônicas Idéias - POA: Sulina

quarta-feira, outubro 18, 2006

Fernando Pessoa
Poesias Inéditas

Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa

Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa,
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.

O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.

Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.

Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.

Que, se quer, e, se veio, se desconhece
Que, se for, seria
O tédio de o haver... E a chuva cresce
Na noite agora fria.


Pierre-Olivier Fineltin

terça-feira, outubro 10, 2006



«Baba antropofágica», 1973
Lygia Clark



In collective works like «Túnel» or «Objetos relacionais,» Lygia Clark initiates psychic processes of exchange which transform the dichotomy of subject and object. In doing so, she follows the transgressive logic of «devouring» and «vomiting». The reception of «Baba antropofágica» («Cannibalistic Saliva») also relies on the documentary film «O mundo de Lygia Clark,» filmed by Eduardo Clark in 1973. But escaping this phantasmal staging of the body seems almost impossible: kneeling over a guinea-pig-like subject lying on the floor, a figure pulls from its mouth—like spiders do from their bodies—a spittle-drenched thread and spins a cocoon around the reclining figure. The precarious division of subject and object is eliminated by this thread-like weaving, with the gestural webbing of the passive subject completing the inversion of the internal and external. In the retrospective, these interactive aspects might have been what was most convincing. In contrast to Performance and Body Art, Lygia Clark understood herself to be an initiator of processes, and was most successful in this respect when her haptic attempts on orderings were targeted at inter-subjective body politics.
(Source: Petra Löffler, «Lygia Clark, The Inside is the Outside», http://members.magnet.at/springerin/d/springer_2/springer_2_62.htm)

segunda-feira, outubro 09, 2006

segunda-feira, outubro 02, 2006

-Vcs devem parar toda forma de tortura!!

-Ora, mas nós não torturamos ninguém!

-Nós fazemos o interrogatório reforçado de terroristas:

- À direita o estimulador elétrico da boa resposta, à frente o incitador de cooperação calorífico e à esquerda a sessão de persuasão hidratante...