sábado, agosto 26, 2006

ARTE


"A estética não nos oferece apenas uma escapada para mundos imaginários, transfigura o sofrimento e o mal. A dor do artista nutre a beleza das obras que resplandecerá nos ouvintes, leitores ou nos espectadores: "O artista deve livrar o mundo da própria dor, mesmo se não se livra do seu próprio sofrimento" (carta de André Suarès a Georges Rouault). Poesia, teatro, literatura, pintura, escultura e música (...) oferecem-nos esse dom sublime da arte que permite estetizar a dor, ou seja, fazer que a sintamos plenamente, sempre gozando da sua expressão. A estética permite-nos olhar de frente o que nos horroriza; permite contemplar a fatalidade, a atrocidade da morte, a morte injusta, a morte odiosa, a morte catastrófica, a morte perda de si mesmo, a morte perda de entes queridos. A situação do telespectador permite contemplar esteticamente tornados, furacões, erupções vulcânicas (e, no limite, a estetização de uma catástrofe sísmica mobiliza os dois sentimentos trágicos do terror e da piedade, sempre podendo também suscitar uma estética cínica da catástrofe. (...)
A estética desperta nossa consciência."


Edgar Morin
(O Método 5, 2002: p. 147, 148)

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