
PAZ
"O que torna uma resolução tão difícil é não sabermos o que queremos e o quanto queremos."
Existe um povo, que "faz uso de uma tradição muito antiga que experimentou encrencas e dificuldades de todas as sortes. E a necessidade é a mãe das resoluções. No caso particular desta tradição, condições muito favoráveis permitiram uma visão de vida muito aguçada e perspicaz, que passou a ser popularmente chamada de 'ídiche kop', literalmente 'cabeça de judeu', entre os próprios judeus. Não se trata de um método e nem de uma sabedoria, mas o acúmulo de 'massa crítica' mínima de problemas necessária para instaurar um processo existencial voluntário de questionamento do impossível."
"... os segredos da recontextualização estão... observação cautelosa da realidade. Desde tempos muito antigos, a tradição cabalística afirmava que a realidade existe em camadas, como uma cebola. Desfazer uma a uma estas camadas permite dissecar a realidade com índices de eficácia muito maiores do que sua percepção reduzida a uma única dimensão."
"A impossibilidade é uma condição momentânea, e quem sabe disto não desiste. E nenhuma outra postura é tão instigadora de criatividade e intuição quanto o 'não desistir'. O simples fato de permanecer no 'jogo' abre opções que, fora dele, ao se 'jogar a toalha', obviamente não existem."
"A simplicidade que uma resolução pode assumir quando não comprometida com 'resoluções estéticas' chega a ser experimentada de forma cômica por um observador."
Nilton Bonder
"O segredo judaico de resolução de problemas: a utilização da ignorância na resolução de problemas" - Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995.
Nilton Bonder
Ensaio 136 páginas
O novo livro de Nilton Bonder, A alma imoral, mostra que, num mundo de interdisciplinaridade, religião e biologia, tradição e sobrevivência, continuidade e mutação não são áreas desconexas. Mas do que tudo, num mundo que redescobre o corpo, faz necessária uma nova linguagem para descrever a natureza humana. Os milenares conceitos de corpo e alma, propõe Bonder, são o primeiro registro de uma proposta biológica - de estudo da vida e de suas leis.
Num texto que provoca a comparação entre preservação e evolução com tradição e traição, A alma imoral aponta para um paraíso onde os únicos mandamentos eram "multiplicar-se" e lidar com a questão da "transgressão". A consciência humana é formada desta descoberta fantástica de que nossa tarefa não é apenas a procriação, mas, nas condições certas e na medida certa, transcender a nós mesmos. Esta traição para nós mesmos, que é vital para a continuidade da espécie, gera o conceito de alma.
Para Bonder, a alma é o elemento do próprio corpo que está comprometida com alternativas fora deste corpo. E, enquanto o corpo forja a moral para garantir sua preservação através da procriação, a alma engendra transgressões. Esta alma que questiona a moral, assumindo-se muitas vezes imoral, é apresentada através de incontáveis transgressões em textos e conceitos antigos.
Um livro de profundo impacto na reflexão sobre o certo e o errado, a obediência e a desobediência, as fidelidades e as traições. Um convite a conhecer as profundas conexões entre o traidor e o traído, entre a marginalidade e a santidade, entre a alma e o corpo.
Sobre o autor
Nilton Bonder é rabino com função de líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil. É graduado em engenharia mecânica pela Universidade de Columbia e doutor em literatura hebraica pelo Jewish Theological Seminary.
Reconhecido internacionalmente, seus livros já foram lançados nos Estados Unidos e Europa com grande sucesso. A cabala da comida, A cabala do dinheiro, O segredo judaico de resolução de problemas estão entre seus títulos mais vendidos. Seu livro anterior, Portais secretos, foi lançado pela Rocco em 1996. A alma imoral é seu décimo primeiro livro.
In: http://www.editoras.com/rocco/022088.htm
“ A questão da complexidade está na moda, mas no sentido em que vou utilizá-la, ela é antiga. Lichtenberg, que vivia no século XVIII, já a tinha colocado na forma de uma parábola, num texto que o põe em cena como químico sonhando (Lichtenberg era a um só tempo químico, escritor, físico, crítico literário, etc.) . Lichtenberg-químico sonha que um Ser sobrenatural, ao qual ele não dá nome mas que é evidentemente Deus criador, lhe confia uma bola mineral. Pede-lhe para analisá-la e lhe designa um laboratório bem equipado. Lichtenberg pensa que esta é a oportunidade de sua vida: ele vai descobrir um corpo desconhecido, com propriedades surpreendentes. Começa a trabalhar... A bola está com um pouco de poeira e ele a sopra; ela está úmida, ele a enxuga; testa suas propriedades em relação à eletricidade friccionando-a. Nada de particular, não é âmbar. Depois ele a analisa quimicamente e não encontra nada interessante, nada senão compostos conhecidos... Decepção. O Ser sobrenatural reaparece e pergunta: “analisou?”, e Lichtenberg, perplexo, atônito, lhe dá a lista dos constituintes. “Você sabe o que analisou, mortal? Esta bola é o globo terrestre” (é um sonho; devemos imaginar uma terra sem âmago ardente, evidentemente). E o Ser sobrenatural descreve para o químico como, desde as primeiras operações, desde que se “apropriou” da bola soprando-a, enxugando-a com seu lenço, ele suprimiu tudo o que na terra tem de interessante, de singular. Os oceanos foram “soprados”, os Andes são essa poeira que está ainda agarrada em seu lenço, etc... O primeiro gesto de Lichtenberg, que ele acreditava ser neutro, insignificante, que fez sem pensar, e que era realmente o gesto de apropriação, reduziu a terra a um composto mineral qualquer. No final do sonho, Lichtenberg, ainda químico, mas jurando tomar todas as precauções possíveis e imagináveis, pede uma nova chance. O Ser sobrenatural lhe concede a nova chance e lhe diz: “Analise quimicamente o que encontrar nesse saco”. Lichtenberg abre o saco e cai de joelhos para pedir perdão, enquanto químico, por sua arrogância. Dentro do saco há um livro, e ele sabe que poderá analisá-lo sem que, evidentemente, a análise química lhe permita dizer o que quer que seja de interessante.
O sonho de Lichtenberg é a própria parábola da complexidade: a maneira pela qual abordamos aquilo com que lidamos é pertinente relativamente ao problema que nos é colocado por aquilo com que lidamos?” (p.151, 152)
PRIGOGINE, I. & STENGERS, I., 1991.: Quinto dia: Da complexidade (Outras Histórias para a ciência), In: A Nova Aliança. - Brasília: Universidade de Brasília.
"Compreender é compreender as razões e as desrazões do outro. É compreender que o self deception, que é o enganar-se a si próprio, um processo mental bem freqüente, pode levar à cegueira sobre o mal cometido, e à auto-justificação, onde o assassinato do outro é considerado justiça ou represália.
A cegueira pode vir de uma impressão cultural sobre os espíritos. A cegueira pode resultar de uma convicção fanática, política ou religiosa. Quando os homens são possuídos pelas idéias, qual é a sua parte de responsabilidade nisso? Esse trabalho de compreensão tem algo de terrível, pois aquele que compreende se coloca em estado de total dessimetria com o fanático que não compreende nada, e que, evidentemente, não compreende que se o compreenda.
As situações são determinantes: virtualidades odiosas ou criminais podem surgir em circunstâncias de guerra (o que, em menor porte, acontece nas guerras conjugais). Os atos terroristas se devem a grupos que, ilusoriamente, vivem uma ideologia de guerra em tempos de paz. Eles são como alucinados numa redoma. Mas assim que a redoma se rompe, muitos deles voltam a ser pacíficos. Essas pessoas, cegas tanto pelo auto-engano quanto por ilusões políticas, me parecem, ao mesmo tempo irresponsáveis e responsáveis, e não podem isentar-se nem de uma condenação simplista, nem de um perdão ingênuo.
Há uma relação entre compreensão, a não vingança e, no limite, o perdão. Victor Hugo declarou: “Eu tento compreender para perdoar”. É primordial considerar que o perdão é uma aposta ética, uma aposta na regeneração daquele que falha, uma aposta na possibilidade de transformação e de conversão ao bem, daquele que cometeu o mal. O ser humano não é imutável: ele pode evoluir para melhor ou para pior."
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa,
Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.
O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim
E, sem querer, tem dó.
Extensa, leve, inútil passageira,
Ao roçar por mim traz
Uma ilusão de sonho, em cuja esteira
A minha vida jaz.
Barco indelével pelo espaço da alma,
Luz da candeia além
Da eterna ausência da ansiada calma,
Final do inútil bem.